Leo Cavalcanti
Brazilian/Alternative/Indie
http://www.leocavalcanti.com.br/
Por: Cleber Facchi
Descomplicar o que já era encarado de forma simples, esta parece ser a proposta de Leo Cavalcanti com o recém-lançado Despertador (2013, Independente). Segundo álbum de estúdio do músico paulistano, o novo registro é mais do que uma continuação do bem resolvido Religar, obra de estreia lançada em 2010. Longe da complexidade, o artista aposta na busca constante por músicas acessíveis e abertas aos mais variados públicos, referência que está longe de transformar Cavalcanti em um personagem íntimo do ouvinte médio, mas reforça a composição de um álbum costurado por boas melodias e versos difíceis de serem evitados.
Ao se esquivar de um tratamento demasiado versátil, como o que orquestrou todo o primeiro disco, Cavalcanti não apenas encontra uma obra marcada pela segurança, como parece estabelecer real domínio sobre as próprias criações. O toque explícito de “Nova MPB”, antes evidente em canções como Inalcancancavel Você e Dissabor, agora autorizam o músico a se abastecer de um conjunto de interpretações plásticas, típicas do Pop. Um passo além da herança tropicalista e que se reconfigura com a mesma beleza e inovação.
Ainda que as melodias enquadradas pelo músico sejam as mesmas das que guiaram Sem (Des)esperar, Dentro e demais faixas lançadas com acerto no debut, os rumos de Cavalcanti agora são apresentados de maneira transformada. Dividido entre as ambientações da década de 1970 e o pop atual, o músico usa da carga de experimentos eletrônicos como uma ferramenta de conexão. É como se todo o catálogo de temas e experiências avulsas do primeiro álbum fossem encaradas em uma atmosfera descomplicada, quase feita para dançar. O típico caso de uma obra que se encaminha para a maturidade, mas em nenhum momento exclui o teor jovial dos versos.
Inclinado ao esforço simples das melodias e versos, Cavalcanti jamais exclui o detalhismo precioso traçado no primeiro disco, pelo contrário, parece ter aperfeiçoado a fórmula desenvolvida por ele próprio. Basta a autointitulada faixa de abertura para perceber como o pop encontra novo sentido nas mãos do compositor. Cercado por um conjunto de vozes orquestrais, batidas firmes e sintetizadores separados entre o climático e o dançante – responsabilidade do músico/produtor Fabio Pinczowski -, o artista apresenta ao público toda a base do novo disco. Um projeto que mesmo fechado em um cenário próprio, se manifesta em uma composição ilimitada de possibilidades.
Com uma separação evidente de dois lados, Despertador deixa para a metade inicial todo o lado eufórico do paulistano. São canções como a pop e eletrônica Só Digo Sim, ou mesmo a cantarolável Leve, faixa que resgata todo o ziguezaguear melódico do debut, porém, em um estágio compacto. Já para a segunda metade do disco, Cavalcanti se divide entre a intimidade (O Momento) e o experimento explícito (Tudo Tem Seu Lugar). São músicas que passeiam pela eletrônica, psicodelia, rock e todo um arsenal de referências sem necessariamente perder o brilho pop anunciado desde a faixa de abertura.
Fazendo valer o rótulo de “pop intergaláctico” encontrado pelo músico para explicar a orientação do disco, Despertador vai além dos limites do próprio criador. Trata-se de uma obra inclinada a brincar com as percepções do ouvinte, exercício que traveste o álbum como um típico exemplar do pop atual, mas que na verdade condensa décadas de experiências em um curto espaço de tempo. Mais do que alguns minutos de versos fáceis e natural diversão, a música de Cavalcanti é uma passagem para outras dimensões, algumas delas, ainda inexploradas.
Despertador (2013, Independente)
Nota: 8.5
Para quem gosta de: Tulipa Ruiz, Wado e Castello Branco
Ouça: Despertador, Só Digo Sim e Leve
